"Aonde se encontram as suas saudades e como seus afetos foram/são impactados durante o período de isolamento?"
Aqui apresentamos a colaboração de 12 artistas de diversas cidades do país em uma conversa com nossas saudades, expandindo este diálogo para além de nós.
o corpo. a pele. atravessada por aromas que rememoram vidas passadas. paralelas. subterrâneas. sons que tomam o vulto de um fantasma. aquela melodia era de quando mesmo? fragmentos de algo que fomos. que fui. eu e você. nós. nunca mais feitos no corpo que se erradica. nada mais familiar. raízes dançando fora da terra. o que sobra? mãos e pernas que não compreendem seus ossos. a fuligem e o orvalho das plantas de manhã. ter com as plantas. como ter com irmãos. acariciar as plantas. como acariciar os irmãos. o tempo florescendo em sua paralisia continua. quando retornaremos ao ano em que estivemos juntos?
Julia Bicalho Mendes - Liberdade (MG)
Gabriela Alves - Juiz de Fora (MG)
Bárbara Stella - Aiuruoca (MG)
a sensação de morte, como essa vírgula infinita, de manhã, 08:04, bom dia, pensamentos áreas, a boca seca escorre e corre na ânsia do teu encontro, encontro, saudades, jantamos juntas todas as noites
e nos influenciamos, como tá sendo essa influência? você ainda está aqui? não te sinto mais. cara de cigana, calafrios que chegam a rasgar minha espinha, o perigo deste silêncio que só nos distancia cada vez mais, perceber? o amor não está mais presente amor. suar deixa as pessoas distraídas demais, como se estivéssemos perdidas sabe? me sinto perdida á tua distância, consultar a saudade em 15 minutos e mais 15 minutos e mais 15 minutos e mais 15 minutos , até quando permanecer nesses segundos, minutos e horas ?olhos consumidos de sono, olhos consumidos de saudades, virgula, ponto, manhã de não esperança, olhos e olhos, boca seca, sensação de morte novamente, fim e inicio de ciclo novamente, a vida, ainda é tempo de sentir? sinto medo de permanecer neste sentir, amar dói, sentir dói, aí que tá o perigo do silêncio, os nossos poros expostos de suor nos deixou distraídas cigana vem e volta, cigana vai, cigana nômade, calafrio chega novamente, meu olhos estão consumidos de sono nesta quarta feira, perdida no tempo, gosto com gosto, dor e dor, sabor se transforma, estrada desvia, estrada a direita, estrada a esquerda, 360 graus, futuro nos engana cada vez que passa , tempo grita no peito e nos confunde no silêncio, me afasto sinto, rasgar a espinha e recomeçar, morte e virgula, distância, minutos acabam rápido, os números correm , falta 20 segundos, agora 15 agora 11 agora 09 segundos agora 04 segundos e agora o que nos resta amor?
Rafaelle Artof Fortaleza (CE)
Mikael Trindade - Aiuruoca (MG)
saudade do sol
atrás de suas pernas
da canga alçada feito bandeira
desenhando o vento
daquela pedra-montanha
ancorando nosso beijo
ou dos nossos corpos
arranhando o céu
na maior cidade da América Latina
cercadas pela floresta construída a dedos
cada espécie
cada folha
o guia nos explicava
mas era nós o que interessava
eu vi seu sorriso beijar o céu
e as luzes da cidade
acenderem
como a chama
que crescia
feito fogueira
em meu peito
- se não for amor eu cegue -
e a pupila acesa do seu olho disse love.
Juliana Bueno - São Paulo (SP)
Tatianny Araújo - Rio de Janeiro (RJ)
SOLILÓQUIO DA SAUDADE
Sinto-te
Sinais sorrateiros,
Silenciosos.
Sazonais.
Saudade soterra
Sentimento severo.
Sedenta,
Surrupio-te.
Saboreio sua seiva,
Sonífera.
Selo sedutor,
Saliente.
Seu semblante singular
(sou satélite secreto)
Serve-me sonhos
Sublimes.
Gabriela Fazuna - São Paulo (SP)
Uma feira livre bem a minha porta
fotos em pinhole - papel fotográfico - revelação manual
maio de 2021.
Vila Mariana/SP/BR
Natalia Lemos, Projeto Rabisco - São Paulo (SP)
Saudade do tempo de cada coisa. Do tic tac das multidões emocionadas. Das salas cheias e das conversas furadas.
Saudade dos encontros em espaços tempos infinitos, da correria da rotina, da tranquiladade da certeza e do instante na presença do outro.
Vitor Fernando - São José dos Campos (SP)
Tenho um livro que diz que saudade é "o momento que tenta fugir da lembrança pra acontecer de novo e não consegue". Não consegue e passa a viver numa janelinha. Uma janelinha no horizonte que não posso tocar. Vejo um jardim colorido, um jardim do meu imaginário, carregado de pés de lembranças de coisas que nem sei se aconteceram. Jardim da saudade de quem vai, de quem fica, de braços, passos, gente, vida. Cuido dessa terra com afeto, mas sempre longe do alcance das mãos.
Júlia Fregadolli - Juiz de Fora (MG)
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